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"O Conto da Aia" e a legitimação da violência contra o corpo feminino: distopia ou futuro próximo?

  • Maria Clara Uchoa
  • 17 de out. de 2024
  • 2 min de leitura

Atualizado: 20 de fev.

Livros, filmes e séries distópicas frequentemente refletem realidades sociais e políticas, e "O Conto da Aia", de Margaret Atwood, é um exemplo assustador dessa reflexão.

Por Maria Clara Uchoa



Publicado em 1985 e adaptado para uma série de televisão em 2017, o mundo da obra emerge de uma crise ambiental e de fertilidade, onde um grupo religioso radical promete restaurar a ordem moral e social, que, segundo eles, teria sido ocasionada pelos pecados da sociedade contemporânea e pela emancipação feminina. Nesse contexto, o corpo feminino torna-se o principal objeto de sustentação e opressão.


Gileade, instaurada após um golpe militar nos Estados Unidos, cria uma nova hierarquia social, na qual existem as "Aias"; elas são as poucas mulheres férteis que restaram e são forçadas a gerar os filhos dos comandantes desse novo regime por meio de um ritual macabro. Esse ritual, baseado em uma passagem da Bíblia, transforma o estrupo em uma prática  institucionalizada e  sagrada, utilizada como meio de "redenção dos pecados" dessas mulheres. Gileade torna o controle do corpo feminino uma necessidade para a sobrevivência humana, de forma religiosa, econômica e moral. A obra de Atwood mostra como essa violência é palpável na nossa realidade, não apenas para as mulheres, mas para toda a sociedade. A normalização da violência sexual e a objetificação das mulheres revelam a fragilidade da autonomia feminina frente a estruturas de poder opressivas.


"O Conto da Aia" é mais do que uma simples narrativa distópica, é uma crítica contundente aos sistemas patriarcais que construíram a história da humanidade. Atwood utiliza a ficção para expor as consequências da subjugação das mulheres e do controle sobre seus ccorpos Além disso, a narrativa nos força a confrontar a realidade das desigualdades de gênero, questionando até que ponto a sociedade atual está disposta a retroceder e com o conservadorismo crescente e os ataques aos direitos reprodutivos, tornam a leitura ainda mais urgente, relevante e atemporal.

GILEADE PODE EXISTIR? 


Estamos diante de uma distopia ou de um futuro próximo? As semelhanças entre Gileade e aspectos de sociedades atuais são alarmantes. Com ondas crescentes de conservadorismo, as mulheres se tornam os principais alvos de ataques, uma vez que seus corpos sempre foram utilizados como instrumentos de poder em sistemas de opressão.


Além disso, o impacto ambiental e a crise da natalidade são questões que já estão em discussão em muitos países. Um exemplo recente foi a PL 1904/24, apresentada à câmara em junho deste ano, que equiparava o aborto a homicídio, representando uma clara negação dos direitos reprodutivos. Aqueles que se opuseram compararam o Brasil à alienação de Gileade.

Ilustração: Levy.
Ilustração: Levy.

Como disse Simone de Beauvoir:

"Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se vigilante durante toda a sua vida."

1 Comment


Guest
Oct 18, 2024

canetada demais arrasou muito

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